quarta-feira, 10 de julho de 2013

Pergunta: Se rebentasse uma guerra amanhã e a lei de recrutamento entrasse em vigor de imediato para o obrigar a pegar nas armas, alistar-se-ia no exército e gritaria; “às armas, às armas!” como os líderes da Sociedade Teosófica fizeram em 1914, ou opunha-se à guerra?
Krishnamurti: Não nos preocupemos com o que os líderes Teosóficos fizeram em 1914. Onde há nacionalismo tem que haver guerra. Onde há vários governos soberanos tem que haver guerra. É inevitável. Pessoalmente eu não me ligaria a actividades de guerra de nenhuma espécie porque não sou nacionalista, não tenho espírito de classes, nem sou possessivo. Não me alistaria no exército nem ajudaria de qualquer forma. Não me juntaria a qualquer organização que existisse apenas com o propósito de curar os feridos e mandá-los de volta para o campo de batalha para serem feridos outra vez. Mas chegaria a um acordo sobre estes assuntos antes que a guerra ameaçasse.
Agora, pelo menos de momento, não há nenhuma guerra efectiva. Quando a guerra chega, faz-se propaganda inflamada, contam-se mentiras sobre o suposto inimigo; o patriotismo e o ódio são fomentados, as pessoas perdem a cabeça na suposta devoção ao seu país. “Deus está do nosso lado”, gritam, “e o diabo com o inimigo”. E durante os séculos têm gritado estas mesmas palavras. Ambos os lados lutam em nome de Deus; em ambos os lados os sacerdotes abençoam – ideia maravilhosa – o armamento. Agora até abençoarão os bombardeiros, tão consumidos estão por esse doença que cria a guerra: o nacionalismo, a sua própria classe ou a segurança individual. Portanto, enquanto estamos em paz – embora “paz” seja uma palavra estranha para descrever a mera cessação das hostilidades armadas – enquanto não estamos, em qualquer caso, realmente a matar-nos uns aos outros no campo de batalha, podemos compreender quais são as causas da guerra, e desembaraçar-nos dessas causas. E se forem claros na vossa compreensão, na vossa liberdade, com tudo o que essa liberdade implica, que podem ser mortos a tiro por se recusarem a seguir a mania da guerra – então agirão verdadeiramente quando o momento chegar, seja qual for a vossa acção.

Portanto a questão não é o que farão quando a guerra chegar, mas o que estão agora a fazer para impedir a guerra. Vocês que estão sempre a gritar-me devido à minha atitude negativa, o que estão a fazer para exterminar a própria causa da guerra? Estou a falar da verdadeira causa das guerras, não somente da guerra imediata que inevitavelmente ameaça enquanto cada nação armazena armamento. Enquanto existir o espírito do nacionalismo, o espírito da diferença de classes, da particularidade e da possessividade, tem que haver guerra. Não a podem evitar. Se realmente estiverem a enfrentar o problema da guerra, como deveriam estar agora, terão que tomar uma acção definitiva, uma acção definitiva e positiva; e pela vossa acção ajudarão a despertar a inteligência, que é a única medida preventiva para a guerra. Mas para o fazerem, têm que se libertar desta doença do “o meu Deus, o meu país, a minha família, a minha casa.”

Jiddu Krishnamurti




Nenhum comentário:

Postar um comentário