quarta-feira, 10 de julho de 2013

Pergunta: Uma vez que a entrada dos Harijans nos templos ajuda a acabar com uma das muitas formas de divisão entre homem e homem que existem na Índia, apoia este movimento que está a ser zelosamente defendido atualmente neste país?

Krishnamurti: Ora por favor compreendam que eu não estou a atacar qualquer personalidade. Não perguntem, “Está a atacar Ghandiji?” etc. Não penso que o problema da diferença de classes na Índia ou em qualquer outro lugar seja resolvido por se permitir que os Harijans entrem nos templos. A diferença de classes só cessa quando já não houver mais templos, mais igrejas, quando não houver mesquitas e não houver sinagogas; porque a verdade, Deus, não está numa pedra, numa imagem esculpida; não está contida entre quatro paredes. Essa realidade não está em nenhum desses templos, nem reside em qualquer das cerimônias efetuadas neles. Portanto porquê incomodarem-se por causa de quem entra e quem não entra nestes templos?
Muitos de vocês sorriem e concordam, mas não sentem estas coisas. Não sentem que a realidade está em todo o lado, em vocês, em todas as coisas. Para vocês, a realidade é um símbolo, seja ele Cristão ou Budista, esteja ele associado a uma imagem ou a nenhuma imagem. Mas a realidade não é um símbolo. A realidade não tem símbolo. Ela é. Não a podem esculpir numa imagem, limitá-la por uma pedra ou por uma cerimônia ou por uma crença. Quando estas coisas já não existirem, as discórdias entre os homens cessarão, bem como quando o nacionalismo – que tem sido cultivado através dos séculos com objetivos de exploração – já não existir, não haverão mais guerras. Os templos, com todas as suas superstições, com os seus exploradores, os sacerdotes, foram criados por vocês. Os sacerdotes não podem existir sozinhos. O sacerdócio pode existir como um meio de vida, mas isso em breve desaparecerá quando as condições econômicas mudarem, e os sacerdotes alterarem o seu ofício. A causa, a raiz de todas estas coisas, dos templos, do nacionalismo, da exploração, da possessividade, reside no vosso desejo de segurança, de conforto. A partir da vossa própria aquisitividade, criam inúmeros exploradores, sejam eles capitalistas, sacerdotes, professores, ou gurus, e tornam-se explorados. Enquanto esta aquisitividade, esta auto-segurança existir, haverá guerras, haverá diferença de castas.
Não se podem livrar do veneno apenas discutindo, falando, organizando. Quando vocês, como indivíduos, despertarem para o absurdo, para a falsidade, a hediondez de todas estas coisas, quando realmente sentirem dentro de vocês a grosseira crueldade de tudo isto, só então criarão organizações das quais não se tornem escravos. Mas se não despertarem, nascerão organizações que os farão seus escravos. É isso o que está a acontecer em todo o mundo. Por amor de Deus, despertem para estas coisas, pelo menos aqueles de vocês que pensam! Não inventem novas cerimônias, não criem novos templos, novas ordens secretas. Eles são apenas outras formas de exclusividade. Não pode haver compreensão, sabedoria, enquanto existir este espírito de exclusividade, enquanto estiverem voltados para o ganho, para a segurança. A sabedoria não está na proporção do progresso. A sabedoria é espontânea, natural; não pode resultar do progresso; existe na realização.
Portanto, muito embora todos vocês, Brâmanes e não Brâmanes, sejam autorizados a entrar em templos, isso não dissolverá as diferenças de classe. Porque vocês irão mais tarde que os Harijans; lavar-se-ão mais cuidadosamente ou menos cuidadosamente. Esse veneno da exclusividade, essa influência perniciosa nos vossos corações, não foi extirpada, e ninguém a vai extirpar por vocês. O comunismo e a revolução podem chegar e acabar com todos os templos deste país, mas esse veneno continuará a existir, só que de uma forma diferente. Não é assim? Não acenem as vossas cabeças em sinal de concordância, porque no momento seguinte estarão a fazer precisamente o contrário do que estou a falar. Não os estou a julgar.
Só há uma maneira de atacar estes problemas, que é fundamentalmente, não superficialmente, sintomaticamente. Se os abordarem fundamentalmente, tem que haver uma revolução tremenda; o pai erquer-se-á contra o filho, o irmão contra o irmão. Será um tempo de luta, de estado de guerra, não de paz, porque há tanta corrupção e decadência. Mas todos vocês querem paz, querem tranquilidade a qualquer custo, com todo este veneno ulceroso nos vossos corações e mentes. Digo-lhes que quando um homem procura a verdade ele é contra todas estas crueldades, barreiras, explorações; ele não lhes oferece conforto; ele não lhes traz paz. Pelo contrário, ele luta porque vê as muitas falsas instituições, as situações corruptas que existem. Eis porque digo que se estão à procura da verdade têm que estar sozinhos – pode ser contra a sociedade, contra a civilização. Mas infelizmente poucas pessoas estão verdadeiramente a procurar. Não estou a julgá-los. Estou a dizer que as vossas próprias ações deveriam revelar-lhes que estão a edificar mais que a destruir esses muros da diferença de classes; que estão a salvaguardar mais que a demoli-los, a acalentá-los mais que a dilacerá-los, porque estão continuamente à procura de auto-glorificação, segurança, conforto, de uma forma ou de outra.







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